“Alegria e esperança na missão entre os povos”
- Editora Mundo e Missão PIME
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- 9 de out.
- 5 min de leitura
No dia do Jubileu dos missionários, publicamos o testemunho da irmã Suzanne Djebba, vigária geral das Missionárias da Imaculada MdI-PIME, partilhado durante o encontro internacional realizado no dia 04 de outubro, em Roma, na Universidade Urbaniana. A irmã Suzanne é natural de Camarões e viveu sua missão na Guiné-Bissau.

Sou irmã Suzanne Djebba, da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada, natural dos Camarões. Depois dos meus estudos aqui em Roma, fui enviada à Guiné-Bissau, onde trabalhei como missionária por cerca de oito anos. Agora estou novamente na Cidade Eterna, servindo como vigária no nosso Conselho Geral. Estou aqui hoje para responder ao convite de partilhar com vocês as alegrias e esperanças da missão entre os povos.
Breve apresentação da missão das MDI na Guiné-Bissau
Como Missionárias da Imaculada, chegamos à Guiné em 1980, a convite de Dom Settimio Ferrazzetta, primeiro bispo de Bissau. O país tem hoje duas dioceses — Bissau e Bafatá. Atuamos na pastoral catequética, na formação de líderes comunitários, na promoção social por meio da educação, no apoio a mães de gêmeos e órfãos, na promoção feminina e no acompanhamento de jovens e estudantes.
A Guiné-Bissau é um pequeno país da África Ocidental, limitado ao norte pelo Senegal, ao sul pela Guiné-Conacri e a oeste pelo Oceano Atlântico. A maioria da população é muçulmana, seguida por praticantes das religiões tradicionais e, em menor número, cristãos de várias denominações.
Meu primeiro chamado missionário
Logo após chegar à Guiné-Bissau, vivi uma experiência que marcou meu entendimento da missão. Certa vez, indo com a comunidade religiosa a um encontro de planejamento pastoral, precisávamos atravessar o rio de barco. Ao desembarcar, um jovem me chamou: “Venha comer!”. No início, pensei que o convite não fosse para mim, já que eu era recém-chegada e ninguém me conhecia além das minhas irmãs de comunidade. Mas o rapaz insistiu, apontando para mim.
Mesmo sendo africana, acostumada com a partilha espontânea, fiquei tocada por aquele gesto. Um estranho me convidava simplesmente a participar. Esse convite — “venha” — tornou-se para mim um símbolo da missão: o chamado para entrar na comunhão de um povo que me acolhia antes mesmo de me conhecer. Um povo que não perguntava se eu era estrangeira, mulher ou de outra religião. Apenas me convidava a partilhar a vida.
Colaboração com a Igreja local
O primeiro passo de todo missionário é abrir-se ao novo — às pessoas, culturas e tradições.
Hoje, ao chegarmos à missão, já encontramos uma Igreja local viva e estruturada. Não partimos mais do zero; nossa tarefa é fortalecer a presença da Igreja e dar-lhe um rosto mais missionário, caminhando lado a lado com os outros, não à frente como protagonistas, nem atrás como espectadores.
A imagem que me acompanha é a de Jesus com os discípulos de Emaús (Lc 24,13-35): caminha com eles, escuta suas preocupações e os ajuda a reconhecer a presença de Deus. Assim entendo o trabalho com a Igreja local: caminhar juntos, partilhar a fé e os dons recebidos, num intercâmbio que enriquece a todos.
Outra imagem que ilumina minha missão é a de Jesus semeador — generoso e incansável — que lança a semente por toda parte. Essa é a fonte do nosso carisma como Missionárias da Imaculada.
Nos meus primeiros anos na Guiné, uma das grandes necessidades era a formação de formadores para a vida religiosa. Trabalhei inicialmente com uma irmã da Consolata e, depois, assumi o serviço sozinha, o que foi desafiador. Propusemos, então, a criação de um grupo local de formadores, envolvendo o seminário maior e outros religiosos. Esse grupo continua ativo até hoje — um sinal concreto de esperança, pois garante a continuidade da formação de vocações locais.
Promoção social
Por meio da educação, buscamos oferecer uma formação de qualidade a crianças e adolescentes. As escolas cristãs — especialmente as católicas — são referência no país.
Seguimos o modelo de autogestão, envolvendo o Estado, o vilarejo e as irmãs. Assim, quando formos chamadas a servir em outro lugar, a escola poderá continuar sem dificuldades.
Também priorizamos o apoio a jovens universitários e profissionais, com bolsas de estudo viabilizadas por benfeitores. O objetivo é dar-lhes um futuro digno e incentivar que permaneçam e construam o próprio país. Hoje, muitos desses jovens trabalham como professores, bancários, enfermeiros — e alguns até ajudam outros estudantes, repetindo o gesto de solidariedade que receberam.
Isso é para mim um sinal de esperança viva: o bem se multiplica e renova a confiança em uma juventude melhor.
A missão da escuta
Em contextos missionários, há sempre muito a fazer — e a tentação é cair no ativismo. Contudo, percebi que o maior pedido das pessoas, especialmente mulheres e jovens, era simplesmente: serem ouvidos.
Uma mulher, certa vez, me disse: “Vocês, missionários, fazem tudo por nós, mas não nos deixam expressar nossa alegria”. Essa frase mudou meu modo de ver. Entendi que a missão não é apenas dar, mas também receber.
Aprendi, como Maria, a ser mulher da escuta — a acolher a vida e o coração do outro com reverência. Às vezes, uma pessoa vem buscar ajuda material, mas ao ser escutada, sai consolada mesmo sem nada receber. A escuta faz nascer a esperança e devolve às pessoas a sensação de serem valorizadas.
E quando percebo que não posso resolver tudo, levo essas pessoas à oração e à Eucaristia, confiando que Deus é o verdadeiro protagonista da missão. Como dizia uma de nossas fundadoras: “A vida missionária, para ser fecunda, deve modelar-se sobre a vida eucarística de Jesus no tabernáculo”.
A missão do anúncio e do testemunho
Na catequese, o anúncio passa pelo diálogo entre fé e cultura, entre fé e tradições locais. Nesse encontro, a fé se enraíza na vida das pessoas sem destruir suas identidades culturais.
Formar bons catequistas é essencial, pois são eles que chegam onde nós não podemos ir, comunicando a fé na linguagem do povo. Como dizia uma irmã minha: “Formar um catequista é levantar uma comunidade cristã”.
Semeadores de paz e justiça
Em um país marcado por instabilidade política e conflitos, a Igreja na Guiné-Bissau trabalha incansavelmente pela paz e reconciliação.
Muçulmanos, cristãos e seguidores das religiões tradicionais convivem lado a lado — muitas vezes dentro da mesma família. São pequenos gestos cotidianos de diálogo e fraternidade que constroem a paz e o bem comum.
Hoje, evangelizar na África significa reconciliar os corações, para construir uma sociedade baseada na justiça e na esperança.
Conclusão
Agradeço a todos os que me deram a oportunidade de reviver e partilhar este caminho missionário. Para mim, a missão é presença — às vezes silenciosa, mas profundamente transformadora. Uma presença que caminha junto, que escuta, que partilha as alegrias e esperanças do povo. Como recorda o Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial das Missões deste ano, citando Gaudium et Spes 1:
“Seguindo Cristo, os cristãos são chamados a transmitir a Boa Notícia compartilhando as condições concretas de vida das pessoas e tornando-se portadores de esperança. As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje — sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem — são também as alegrias e esperanças, tristezas e angústias dos discípulos de Cristo.”
Obrigada a todos pela atenção e pela escuta!
Por Ir. Suzanne Djebba - Mondo e Missione - tradução e adaptação redação Mundo e Missão
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