Durante o tempo pascal, a sabedoria da Igreja nos propõe o aprofundamento da fé professada e renovada na Vigília Pascal, com a luz do Evangelho, as experiências de fé e vida relatadas nos Atos dos Apóstolos e também as cartas do Novo Testamento, cujo conteúdo desdobra para nós a riqueza inesgotável da vida cristã. Ajudam-nos de forma especial os passos dados pelos Discípulos de Jesus, cujo amadurecimento nas convicções e na força missionária nos estimulam. É de São João Crisóstomo o comentário a respeito da vida e ardor missionário dos que são as colunas de nossa fé, do qual recolhemos algumas edificantes constatações (cf. Homilias sobre a Primeira Carta aos Coríntios, de São João Crisóstomo, bispo – Hom. 4,3.4: PG 61,34-36 – Séc. IV):
“Por meio de homens ignorantes a cruz persuadiu, e mais, persuadiu a terra inteira. De incultos e ignorantes fez amigos da sabedoria. A loucura de Deus é mais sábia que os homens e a fraqueza, mais forte. Sucedeu exatamente o contrário do que pretendiam aqueles que tentavam apagar o nome do Crucificado. Este nome floresceu e cresceu enormemente. Mas seus inimigos pereceram em ruína total. Sendo vivos, lutando contra o morto, nada conseguiram. Tudo o que, pela graça de Deus, souberam realizar aqueles publicanos e pescadores, os filósofos, os reis, numa palavra, todo o mundo perscrutando inúmeras coisas, nem mesmo puderam imaginar. Quando é que se pensou: doze homens, sem instrução, morando em lagos, rios e desertos, que se lançam a tão grande empresa? Quando se pensou que pessoas que talvez nunca houvessem pisado em uma cidade e, em sua praça pública, atacassem o mundo inteiro? Quem sobre eles escreveu, mostrou claramente que eles eram medrosos e pusilânimes, sem querer negar ou esconder os defeitos deles. Ora, este é o maior argumento em favor de sua veracidade. Donde lhes veio que, durante a vida de Cristo, não resistiram à fúria dos judeus, mas, uma vez ele morto e sepultado – visto que, como dizem muitos, Cristo não ressuscitou, nem lhes falou, nem os encorajou – entraram em luta contra o mundo inteiro? Não teriam dito, ao contrário: ‘Que é isto? não pôde salvar-se, vai proteger-nos agora? Ainda vivo, não socorreu a si mesmo, e morto, nos estenderá a mão? Vivo, não sujeitou povo algum, e nós iremos convencer o mundo inteiro, só com dizer seu nome? Como não será insensato não só fazer, mas até pensar tal coisa?’ Por este motivo é evidente que, se não o tivessem visto ressuscitado e recebido assim a grande prova de seu poder, jamais se teriam lançado em tamanha aventura”.
O Terceiro Domingo da Páscoa, porque estamos “na Páscoa” durante cinquenta dias, reporta uma das aparições de Jesus Ressuscitado. Os onze estavam reunidos no Cenáculo, ouvindo a experiência dos discípulos de Emaús e relatam a aparição de Jesus a Simão Pedro. Jesus então se faz presente e o grupo tem medo, recusando-se a crer, num misto de alegria e estupor! É que tinham visto Jesus sofrer, morrer e ser sepultado poucas horas antes, tempo suficiente para desmoronar muitas expectativas messiânicas diante de um fracasso tão evidente! Pensam estar diante de um fantasma, o que indica o quão eram primitivos em suas convicções. Da insegurança vem a dúvida e Jesus os ajuda com uma prova física, comendo um pedaço de peixe assado e o pão diante deles, e chegam à certeza, vendo as chagas e os gestos de Jesus: É o Senhor! Devem ter pensado assim, saindo do medo para a alegria indestrutível.
E Jesus os ajuda, relembrando tudo o que a Escritura tinha dito a seu respeito. E aqueles homens tão frágeis deveriam ser testemunhas da Ressurreição, cabendo-lhes o anúncio do Evangelho, o que fizeram de fato, depois de terem recebido a força do Espírito Santo, enviado pelo Pai e por Jesus à Igreja nascente, como vemos no vigoroso discurso de Pedro, após a cura do Paralítico (cf. At 3,13-15.17-19). “Graças à fé no nome de Jesus, este Nome acaba de fortalecer este homem que vedes e reconheceis. A fé que vem por meio de Jesus lhe deu perfeita saúde, à vista de todos vós. Ora, meus irmãos, eu sei que agistes por ignorância, assim como vossos chefes. Deus, porém, cumpriu deste modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer. Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam apagados” (At 3,16-17).
Nascem algumas atitudes adequadas para este tempo! Em nosso meio, existem várias etapas no amadurecimento da fé. Não há motivos para temer nem rejeitar aquelas pessoas que apresentam perguntas e dúvidas. O primeiro recurso é o testemunho coerente, capaz de transformar corações relutantes. Depois, a palavra, a pregação, a catequese, tudo feito não para forçar as pessoas, mas a oferecer-lhes o que temos de melhor, que é o nome e a ação salvadora de Jesus Cristo.
Em nossas Comunidades Cristãs, sintam-se incluídas, sem julgamentos, pessoas que se encontram nos primórdios da inserção na Igreja. Um acompanhamento, da parte do sacerdote, diácono, religioso ou religiosa, catequista ou um membro de uma Comunidade Nova, ou uma pessoa leiga madura na fé! Um trato pessoal, respondendo com seriedade, respeito e amor sincero. É bom saber que em nossas Paróquias há pessoas em fase de aproximação da Igreja, outras são catecúmenas, não poucas se sabem penitentes em processo de conversão. Outras já receberam os Sacramentos da Iniciação Cristã, mas tiveram quedas em seu caminho. Encontramos pessoas que passam por crises de fé, outras em situações de saúde que lhes dificultam dar passos maiores.
Lembremo-nos de que vivemos num mundo pluralista e diversificado, inclusive com uma grande quantidade e diferenças na prática religiosa. Nossa Evangelização há de começar sempre com o Querigma, o núncio de Jesus Cristo, que tem a força para mudar o mundo inteiro, com a convicção de que “Jesus Cristo morreu, Jesus Cristo ressuscitou, Jesus Cristo é o Senhor! Jesus Cristo há de voltar!” A proposta da Iniciação à Vida cristã no estilo catecumenal, cujo ponto de partida é este, começa a se implantar com muitos frutos, envolvendo crianças, adolescentes, jovens e adultos, de todas as idades e condições sociais.
Entretanto, o horizonte que possibilitará atitudes pastorais adequadas será sempre o ardor missionário. A história de nossas Comunidades tem capítulos impressionantes, nos quais muita gente percorreu em breves períodos o caminho da conversão e chegaram à missão, pois para Deus nada é impossível!
Por Dom Alberto Taveira Corrêa - Arcebispo de Belém do Pará (PA)
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