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Mianmar: inundações atingem milhares de deslocados pela guerra civil em Loikow

“Só a força que vem do alto nos faz continuar”, diz dom Celso Ba Shwe, bispo de Loikaw, cidade no leste de Mianmar, diante do flagelo da guerra civil e agora das cheias que atingem os milhares de deslocados.


Enchente em Taungoo, Mianmar, 14 de setembro de 2024. (ANSA)

Nos dez campos de refugiados onde estão acampados os  deslocados católicos de Loikaw, “as inundações chegaram repentinamente, devastando a vida de famílias, crianças e idosos. São ao menos 18 as vítimas confirmadas e há pessoas desaparecidas. É um novo golpe contra  pobre gente que já há dois anos sofre com o conflito civil", afirma em entrevista à Agência Fides dom Celso Ba Shwe, bispo de Loikaw - cidade no leste de Mianmar, no Estado birmanês de Kayah -, ao descrever os efeitos do tufão Yagi que atingiu Mianmar.


Esses 10 campos são apenas uma pequena parte dos cerca de 200 campos de refugiados que acolheram cerca de 150 mil refugiados no total no território diocesano, porque a população civil havia fugido da cidade, para buscar refúgio dos confrontos entre o exército regular e as milícias que se opõem à junta militar, no poder com um golpe de Estado desde fevereiro de 2021.


A comunidade diocesana fragmentou-se porque “todos fugiram das paróquias e o rebanho se dispersou. Alguns encontraram abrigo no território da vizinha Diocese de Pekhon, a maior parte dos batizados está distribuída em cerca de 200 assentamentos de deslocados que se espalham pelo território”, afirma o bispo, delineando a situação local. Também sacerdotes, religiosos, religiosas, catequistas deixaram a cidade, atingida por bombardeios do exército regular por ser considerada um dos redutos das Forças de Defesa Popular, aliadas aos exércitos das minorias étnicas.


Símbolo do sofrimento da Igreja local foi a ocupação da Catedral e do centro pastoral adjacente de Loikaw, transformado pelos militares birmaneses numa base logística em novembro de 2023, expulsando o bispo, que se tornou assim um “refugiado entre os refugiados”.

“Os militares ainda estão lá há quase um ano”, confirma dom Ba Shwe. “Tentamos falar com as autoridades civis e militares - diz ele - mas por enquanto não há sinais concretos para a liberação da nossa estrutura. Conseguimos salvar os registros dos batismos e dos sacramentos, nada mais. Sentimo-nos quase exilados, distantes de Jerusalém. Só a fé e a força que vem do alto nos permitem seguir em frente”, afirma. 

Dom Celso transferiu-se temporariamente para a igreja de uma área remota, a Paróquia de Soudu, na zona oeste da diocese. De lá, ele viaja continuamente para os campos de refugiados para visitar e confortar os deslocados.


A comunidade católica está fazendo o possível para dar continuidade  – em uma situação de dificuldade – ao cuidado material e espiritual dos fiéis. “Há uma urgência pelo apoio diário. Com a Caritas Loikaw trabalhamos incansavelmente pela assistência humanitária. Mantemos a discrição, graças à Providência de Deus, todos os dias tentamos alimentar e atender a todos”, relata.


Além disso, “em cada um dos 200 acampamentos existe uma capela, muitas vezes feita de bambu, construída pelos fiéis. Nossos sacerdotes não perderam a coragem e foram ao encontro dos fiéis de suas paróquias, em busca das ovelhas perdidas. Esta proximidade com o povo é um grande consolo”.

A Igreja, observa ele, “está empenhada em organizar melhor o serviço do alimento material e espiritual. Às vezes compreendemos claramente que isto faz com que os fiéis não se desesperem. Celebramos a Eucaristia, os batismos, as Primeiras Comunhões e as Confirmações nos campos de refugiados. Ali há pessoas simples, que sabem que podem confiar em Deus, que Deus não as abandona. Sabem que, juntos, estamos vivendo um Calvário, estamos percorrendo um liongo caminho no deserto, à espera da Terra Prometida, que para nós é a paz, é poder voltar para nossas casas e nossas igrejas".


Outro tema que está muito próximo do coração do prelado é o da educação: “Estamos muito preocupados com a educação das crianças e dos jovens. Estamos fazendo tudo o que podemos e devemos construir pequenas escolas temporárias onde muitas vezes religiosos, freiras e catequistas prestam-se ao ensino. Faltam livros e materiais escolares para os alunos. É uma geração que será afetada por esta interrupção da educação escolar”, observa.


Também para os Seminários a situação é precária. O Seminário interdiocesado de Loikaw foi transferido há dois anos para Taunggyy e lá estão os 13 seminaristas maiores de Loikaw. O Seminário Menor intermediário, com outros 13 jovens, foi transferido para uma área remota e a formação está muito difícil.


Sobre a situação geral do conflito civil em curso, o bispo de Loikaw observa que “está em uma fase de impasse, em que as forças de resistência controlam algumas áreas, mas o exército regular ainda é muito forte e possui armamentos grandes e poderosos”. O resultado do conflito permanece incerto, a situação está bloqueada e a vitória da resistência não parece próxima.


“Continuamos a falar de paz e a promover a reconciliação, que é o horizonte ao qual o Evangelho nos leva”, afirma. “Mas infelizmente hojes palavra 'reconciliação' não encontra acolhida em nenhuma das partes em conflito. A junta militar combate e define os jovens das forças populares como “terroristas”. Os jovens, por sua vez, falam da violência cometida pelo exército e não querem recuar. E o conflito continua. Esta é a situação no terreno. Estamos no meio de um túnel e só o Senhor pode nos fazer ver a luz novamente”.

Por Agência Fides

 

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