Myanmar: a ameaça contra a Catedral de Taungoo
- Editora Mundo e Missão PIME
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- 27 de ago.
- 3 min de leitura
A junta militar quer demolir a catedral de Taungoo – Católicos locais consternados com a ameaça que paira sobre a igreja dedicada ao Sagrado Coração, erguida no final do século XIX pelos missionários do Pime. A ordem prevê também a destruição de 19 sítios budistas para “escavações arqueológicas”.

Em um contexto de crescente repressão ao patrimônio religioso, a Comissão de Segurança e Paz do Estado de Myanmar, ou seja, sua junta militar, está levando adiante um plano para demolir em Taungoo (Taungngu) – cidade da região de Bago – a histórica catedral católica do Sagrado Coração e pelo menos outros 19 locais religiosos budistas, suscitando um profundo sentimento de desorientação entre as comunidades religiosas.
A nova ordem de demolição – tornada pública três dias atrás pela agência UcaNews e confirmada por uma organização local de assistência e por líderes religiosos locais – segue um padrão de intimidação e violência contra instituições religiosas que se intensificou após o golpe de Estado de fevereiro de 2021. Citando a expansão das escavações arqueológicas na cidade quinhentista de Ketumati – a antiga capital da dinastia de Taungoo –, a junta ordenou não apenas a remoção de locais cristãos, mas também de 16 mosteiros budistas, um convento, um centro de retiro e uma pagoda, todos situados dentro da chamada “zona cultural”.
A história da Catedral do Sagrado Coração
As raízes da Catedral do Sagrado Coração mergulham profundamente na história de Taungoo, servindo de refúgio espiritual para gerações de católicos desde sua fundação pelos missionários italianos do PIME, presentes na então Birmânia desde 1869. Foi a administração britânica da época que disponibilizou o terreno. Os paroquianos recordam os Batismos, Casamentos e orações oferecidas pelos entes queridos dentro de suas paredes. Sua estrutura atual remonta a 1987, após os danos sofridos durante a Segunda Guerra Mundial e uma reconstrução posterior.
Dor e indignação da comunidade local
Andrew, um morador local, compartilhou com a AsiaNews a dor da comunidade: “Como católicos, estamos muito tristes. Podemos confirmar que a notícia é verdadeira e que já começaram algumas demolições nas áreas ao redor. Embora circulem rumores sobre um sítio arqueológico do século XVI, parece que o verdadeiro alvo são justamente os grupos religiosos budistas e cristãos”.
O medo da minoria católica
Para a minoria católica em Myanmar, a dor é tanto imediata quanto geracional. Jacinta expressa assim o medo compartilhado por muitos:
“Nós católicos não ousamos levantar nossa preocupação como grupo minoritário em Myanmar, mas neste caso até a religião majoritária está oprimida. Nos perguntamos se ao menos poderemos obter um terreno substituto das autoridades após a demolição da catedral. Sob a junta, o Ministério dos Assuntos Religiosos não concede nenhuma permissão para a construção de edifícios religiosos: tememos que não permitam à diocese a reconstrução da catedral mesmo no caso de haver um terreno disponível”.
Uma escalada de violência contra a Igreja
A ordem de demolição da catedral de Taungoo se soma a tantas outras feridas sofridas pela Igreja católica em Myanmar. As ações dos militares após o golpe de Estado forçaram o deslocamento de bispos de várias dioceses: Hakha no Estado Chin, Bhamo no Estado Kachin, Loikaw no Estado Karen e Lashio no Estado Shan setentrional. Agora, também a Sé episcopal de Taungoo está ameaçada de forma semelhante. Em um exemplo recente dessa escalada de violência, a catedral de Bhamo foi incendiada apenas três meses atrás pelos soldados da junta militar, marcando uma insegurança cada vez maior para os fiéis.
Mais de 300 locais religiosos destruídos
Pesquisadores independentes, desde o golpe de fevereiro de 2021, registraram a destruição de mais de 300 locais religiosos em todo o país, muitas vezes após ataques aéreos ou incursões punitivas. O Governo de Unidade Nacional, que atua no exílio, sustenta que se trata de uma política calculada do líder da junta, Min Aung Hlaing, para minar a resistência religiosa e civil.
Fé e resistência diante da ameaça
Para os católicos de Taungoo, a perda da catedral representaria muito mais do que a destruição de um edifício: significaria uma ruptura na vida de fé de uma cidade e se somaria a um crescente sentimento de medo, deslocamento e privação de direitos para as minorias em toda a nação. Apesar da dor, porém, permanece uma tranquila determinação em prosseguir seu caminho.
Enquanto, portanto, os tratores se aproximam da Catedral do Sagrado Coração e dos mosteiros budistas, as comunidades religiosas de Myanmar se voltam para sua fé em busca de conforto, resistência e solidariedade, unidas na oração para que seus lugares sagrados possam continuar a viver.
Por AsiaNews - tradução e adaptção Redação Mundo e Missão
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