Síria: Os Incansáveis na Busca por Padre Dall’Oglio
- Editora Mundo e Missão PIME
- 11 de jun.
- 4 min de leitura
A busca nas valas comuns sírias continua e é uma tarefa extremamente difícil e séria, como relatam os especialistas do Syria Justice and Accountability Center (SJAC), que estão à frente da missão.

Segundo a AsiaNews, a notícia de que o suposto corpo encontrado seria do jesuíta romano, desaparecido em 29 de julho de 2013, foi uma “fake news”, pois «simplesmente nenhum corpo foi encontrado». Com essas palavras, Jomana Salman, gerente de projeto do SJAC, desmente a informação divulgada recentemente pela mídia italiana sobre o religioso, que desapareceu ao entrar em uma área então controlada pelo Estado Islâmico para negociar a libertação de reféns.
«Não trabalhamos nas valas comuns de al-Furusiya ou Raqqa, portanto, não há nenhum cadáver a ser identificado», esclarece a especialista.
A difícil busca pelos desaparecidos na guerra civil síria
O SJAC atua há anos para esclarecer o destino de centenas de milhares de pessoas desaparecidas durante a guerra civil na Síria. De acordo com uma estimativa da ONU de 2021, trata-se de mais de 130 mil indivíduos. O atual governo sírio afirmou recentemente que pelo menos 140 mil pessoas foram enterradas em valas comuns, das quais pelo menos 12 mil no nordeste do país, majoritariamente curdo — mas os números podem ser muito maiores.
Atuação nas áreas curdas e parceria internacional
O SJAC continua seu trabalho mesmo após a queda do regime de Bashar al-Assad, substituído por grupos islamistas liderados pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS). Por ora, a organização atua apenas nas áreas controladas pelas milícias curdas. «Temos permissão da administração autônoma para trabalhar na questão dos desaparecidos, em especial os sequestrados pelo ISIS, com base em um memorando de entendimento», explica Jomana Salman, ressaltando que outras ONGs atuam no restante da Síria.
Colaboração com a antropologia forense da Guatemala
Trata-se de um trabalho extremamente custoso, realizado em colaboração com a Fundação de Antropologia Forense da Guatemala (FAFG), um país também marcado por décadas de guerra civil e milhares de desaparecidos, em sua maioria indígenas maias.
«Tínhamos uma parceria com a Argentina – conta Jomana – mas eles deixaram de operar na Síria, então procuramos a Guatemala, que tem vasta experiência forense e laboratórios confiáveis».
Metodologia de investigação: equipes locais e dados contextuais
O envio de amostras de DNA para a Guatemala é apenas a etapa final.
«Nosso trabalho se concentra em duas fases anteriores: formação de equipes locais e investigações contextuais», diz Salman. Analisar todos os restos seria financeiramente inviável — cada exame custa entre 100 e 150 dólares e exige ao menos três amostras da vítima e de familiares.
Por isso, o SJAC, financiado principalmente pelos Estados Unidos e Alemanha, concentra esforços em locais onde há mais probabilidade de encontrar restos humanos com base em informações prévias. «São necessárias testemunhas: familiares que registraram o desaparecimento, sobreviventes, moradores locais ou até ex-combatentes. Com pelo menos três fontes, usamos imagens de satélite para localizar sepulturas. Às vezes temos detalhes específicos sobre a fisionomia ou roupas da pessoa. Se os relatos coincidirem, recolhemos o DNA».
O caso de Padre Dall’Oglio: muitas versões não confiáveis
No caso de padre Paolo, o SJAC ainda está na fase de investigação contextual, que aponta 16 possíveis locais de sepultamento. «Padre Paolo era conhecido por muitos na Síria, e por isso colhemos vários relatos, mas a maioria não era confiável, eram informações totalmente falsas», afirma Jomana.
«Uma fonte, por exemplo, disse que ele havia sido preso pelo ISIS em al-Karamah (leste de Raqqa), e depois havia sido transferido. Mas após checagens, verificamos que a região estava sob controle do regime na época, o que torna o relato inconsistente. Continuamos investigando, não apenas por padre Paolo, mas por todas as pessoas desaparecidas na Síria».
A dor das famílias: o lado mais difícil da missão
Para Jomana, nascida em al-Hasakah e hoje vivendo na Bélgica, o mais difícil é lidar com as famílias: «No início, pensei que o pior seria lidar com cadáveres e valas comuns, mas após poucos meses percebi que o mais doloroso é falar com os familiares. Você enfrenta a dor deles, suas expectativas».
Esse sofrimento se intensifica com a proliferação de notícias falsas nas redes sociais: «Hoje circulam muitas informações sem qualquer controle. E quando uma família recebe uma notícia — ainda que falsa — sente que precisa recomeçar a luta para reencontrar seu ente querido».
A nova fase política e os desafios da confiança
Nas áreas retomadas pelo novo governo do presidente Ahmed al-Sharaa — ex-combatente do HTS, com ligações anteriores com a al-Qaeda e o Estado Islâmico —, outras entidades trabalham com desaparecidos. Há expectativas de cooperação com o mecanismo independente da ONU para pessoas desaparecidas (IIMP). «Outras equipes tentam se coordenar com o IIMP para centralizar os dados. Já sinalizamos nossa presença, mas queremos acompanhar como o processo irá evoluir».
Apesar da queda do regime Assad, a população continua desconfiada das novas autoridades islamistas. A comunidade alauíta, da qual faz parte a família Assad, tem sido alvo de perseguições por grupos armados que apoiaram a ascensão do HTS.
A esperança de retorno
Jomana ainda não voltou à Síria: «Fugi em 2014 e me mudei para o Iraque, de onde podia entrar no nordeste da Síria sem problemas. Agora, estou esperando conseguir a cidadania belga antes de retornar – diz esperançosa –. É estranho pensar que preciso de um documento estrangeiro para voltar ao meu país».
Por Alessandra De Poli - Mondo e Missione - tradução e adaptação redação Mundo e Missão
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