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Um chamado na fronteira: Atalaia do Norte

Gostaria de compartilhar com vocês um pouco da minha experiência missionária em Atalaia do Norte, uma pequena cidade no Amazonas que, para mim, representa a verdadeira fronteira – não apenas geográfica, mas também humana e espiritual.

Ir. Laura com família indígena - Arquivo MdI
Ir. Laura com família indígena - Arquivo MdI

Localizada a 1.200 km de Manaus, Atalaia do Norte é o último pedaço de estrada no Brasil antes de chegar ao Peru. É uma viagem de uma semana de barco subindo o rio Solimões, mas o que mais me impressiona não é a distância, e sim a realidade que encontramos aqui. A cidade tem cerca de 15 mil habitantes, mas seu território é vastíssimo, abrigando a Terra Indígena do Vale do Javari, onde vivem mais de 6 mil indígenas de 26 etnias diferentes.


Primeiras Impressões e Desafios

Cheguei aqui em março, como Missionária da Imaculada, e nestes primeiros meses, o que mais me tocou foi a complexidade do lugar. A convivência entre diferentes culturas e línguas é constante: o português se mistura com o espanhol de peruanos e colombianos e com as diversas línguas indígenas. As pessoas circulam pelas ruas com seus trajes tradicionais, mas percebo que a coexistência nem sempre significa união. Cada grupo preserva suas tradições, e as relações são muitas vezes isoladas.


Outro ponto que salta aos olhos é a desigualdade social, visível na forma como as pessoas vivem. As casas de alvenaria estão no centro, enquanto as de madeira ficam em áreas mais baixas, e as palafitas, muitas vezes, abrigam famílias indígenas nas áreas alagadiças. A sensação de estar "no fim da estrada" é palpável no dia a dia. As mercadorias são caríssimas, as viagens são longas e demoradas. A infraestrutura é precária: a energia falta quase todos os dias, o saneamento básico é praticamente inexistente, e serviços essenciais como saúde e educação são insuficientes.


A violência também é uma realidade presente, impulsionada pelo tráfico de drogas e armas, uma vez que a região é uma das principais portas de entrada para a cocaína no Brasil. Infelizmente, o vício em drogas e álcool atinge principalmente os jovens.


Fé e Esperança na Periferia

Apesar de todas as dificuldades, também vejo a esperança. Muitas famílias indígenas se mudam para a cidade em busca de um futuro melhor para seus filhos, principalmente através da educação. Mesmo vivendo com poucos recursos, eles sonham com um futuro mais digno.

A paisagem religiosa de Atalaia do Norte é bastante diversificada. Católicos e evangélicos têm uma presença parecida, mas um grande número de pessoas se declara sem religião. Há também muitos indígenas que seguem suas tradições ancestrais. Sinto que aqui estamos na periferia humana e espiritual de nosso país.


Uma Igreja Samaritana

Diante de todos esses desafios, minha prioridade é simples, mas profunda: estar presente e ser uma ponte. Meu trabalho se baseia em conhecer as pessoas, visitar as casas, ouvir suas histórias e dialogar com quem tem outras crenças. Animo a pequena comunidade católica a sair de si mesma para levar a alegria do Evangelho.

Minha inspiração é a imagem de uma Igreja samaritana: que se faz próxima, que dá o primeiro passo, que cura as feridas e que constrói relações de corresponsabilidade. Acredito que o verdadeiro testemunho não está nas grandes obras, mas na capacidade de enxergar o outro, de acolher e de caminhar junto, especialmente com aqueles que estão nas margens da sociedade.


Que Deus nos abençoe em nossa jornada missionária!


Por Ir. Laura Cantoni, Missionária da Imaculada - Brasil Norte

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