Pedro To Rot, o primeiro santo do Pacífico
- Editora Mundo e Missão PIME
- há 1 dia
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Foi canonizado no domingo, 19 de outubro, junto com outros seis beatos. “Celebra-se o mártir, o catequista, o leigo, o marido e pai de família, morto por injeção letal aos 33 anos — uma idade significativa e simbólica”, diz o padre Giorgio Licini, missionário do PIME e por muitos anos secretário da Conferência Episcopal da Papua-Nova Guiné.

Junto com outros seis beatos, foi canonizado também o leigo Pedro To Rot, o primeiro santo originário do Pacífico. Será um momento de grande alegria para a Igreja da Papua-Nova Guiné, à qual hoje pertence a paróquia de Rakunai e a diocese de Rabaul (na ilha da Nova Bretanha Oriental), onde Pedro nasceu e onde foi morto em 1945, durante a ocupação japonesa.
“Foi um presente realmente grande que o Papa Francisco nos deu, pouco antes de morrer, ao promulgar o decreto de canonização do bem-aventurado Pedro To Rot”, recorda com emoção o postulador padre Tomás Ravaioli, IVE. “Embora fosse algo que esperávamos e pelo qual trabalhávamos e rezávamos há muitos anos, é um presente imenso, porque o bem-aventurado Pedro To Rot é o primeiro filho da Papua-Nova Guiné a ser elevado à honra dos altares.”
Mas quem é Pedro To Rot? Nascido no pequeno vilarejo de Rakunai em 1912, aos dezoito anos ingressou na escola para catequistas, função que assumiu aos 21. Rapidamente, conquistou o afeto e o respeito de todos em Rakunai e nas aldeias vizinhas. Em 11 de novembro de 1936, casou-se com Paula Ia Varpit na igreja paroquial de Rakunai. Tiveram três filhos.
“Em 1942”, conta padre Ravaioli, “quando os japoneses invadiram parte da atual Papua-Nova Guiné, uma das primeiras ações deles foi prender todos os missionários estrangeiros. Com a ausência dos padres (pois ainda não havia clero local), milhares de fiéis ficaram sem pastores que os guiassem e sem ninguém que preservasse sua fé. Nesse momento crucial, o jovem catequista, então com apenas trinta anos, tornou-se um gigante da fé, assumindo a responsabilidade de manter viva a esperança e a fé do seu povo.”
Além disso, denunciou publicamente a poligamia como prática inaceitável para os cristãos e usou todos os meios ao seu alcance para convencer os católicos a resistirem a ela. “Sabia que manter essa posição poderia significar prisão ou morte, mas não podia se calar.”
De fato, Pedro To Rot foi ameaçado e preso várias vezes, a última entre abril e junho de 1945. “Estava convencido de que morreria na prisão”, continua padre Ravaioli. “Na véspera de sua morte, um dos chefes da aldeia teve a oportunidade de vê-lo pela última vez. Ele lhe disse: ‘Estou aqui por aqueles que quebram seus votos matrimoniais e por aqueles que não querem ver a obra de Deus avançar. Chega. Tenho de morrer. Volte e cuide do povo. Já me condenaram à morte.’” Na noite de 7 de julho de 1945, dois médicos japoneses foram até sua cela e lhe aplicaram uma injeção letal.
“O seu ativismo”, comenta padre Giorgio Licini, “irritou não só os ocupantes, que precisavam controlar os indígenas enquanto as tropas aliadas se aproximavam, mas também seus próprios conterrâneos, que tentavam se adaptar como podiam e não se opuseram quando os japoneses reintroduziram a poligamia, antes proibida pelos missionários e pela administração colonial australiana. Pedro To Rot entrou em rota de colisão com seus próprios irmãos de sangue.”
O arcebispo Rochus Tatamai, primeiro arcebispo indígena de Rabaul, recorda que foi o próprio avô materno dele, arrependido mais tarde, quem, junto com o chefe tribal, entregou Pedro aos japoneses.
Sua canonização — após a visita do Papa Francisco em setembro de 2024 — representa um dos eventos mais belos e significativos para a Igreja da Papua-Nova Guiné.
Diz padre Licini: “Celebra-se o mártir, o catequista, o leigo, o pai de família, morto por injeção letal aos 33 anos, traído pelos seus pelos ‘trinta dinheiros’ da poligamia e condenado pelos ocupantes por ser um agitador e uma alternativa de vida diante da morte moral e espiritual da conquista e da guerra. Não poderia haver melhor semelhança com a morte de Cristo para o primeiro santo do Pacífico.”
Mas não apenas isso: “Ao mesmo tempo”, acrescenta o missionário, “a grande ocasião espiritual da canonização será refletir sobre as causas profundas e inconfessáveis da sua morte: não apenas (e talvez nem tanto) a questão da poligamia e da moral sexual cristã ou pagã, mas o tédio ancestral da feitiçaria, da duplicidade, da inveja e do ciúme — coisas que continuam matando nas aldeias Tolai e ao redor de Rabaul, apesar da presença enraizada e difundida das Igrejas cristãs. Em outras palavras: será mais um santo de plástico, que sorri e não se move, com tríduos e novenas que não mudam a mentalidade, ou será o espasmo da morte na face dos Judas e algozes de ontem e de hoje?”
Estes são os novos santos
Pedro To Rot foi canonizado no domingo, 19 de outubro, às 10h30, na Praça de São Pedro, pelo Papa Leão XIV, junto com outros seis beatos:
Inácio Choukrallah Maloyan, arcebispo de Mardin (Turquia);
Vincenza Maria Poloni, italiana, fundadora do Instituto das Irmãs da Misericórdia;
Maria do Monte Carmelo Rendiles Martínez, religiosa e fundadora das Servas de Jesus (Venezuela);
Maria Troncatti, salesiana missionária no Equador;
José Gregorio Hernández Cisneros, leigo venezuelano conhecido como “o médico dos pobres”;
Bartolo Longo, fundador, com sua esposa, do santuário do Rosário em Pompeia e da Congregação das Irmãs do mesmo título.
Por Mondo e Missione - tradução e adaptação redação Mundo e Missão
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