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À espera de um novo amanhecer

Do Haiti, uma das periferias humanas mais sofridas, emanam vozes de esperança na garganta de sua extraordinária juventude

por redação


Foto: Unsplash.com/Tim Trad

O Haiti é uma nação centro-americana com pouco mais de 11.4 milhões de habitantes (2020) em um território de 27.540 Km². O país está localizado em uma ilha do Atlântico, chamada Hispaniola, que divide com a República Dominicana. O lado haitiano é uma região castigada por desastres naturais, caos políticos intermináveis, corrupção epidêmica, ditaduras sangrentas, crises econômicas e sanitárias, extrema pobreza, incluindo também o recente assassinato de um presidente.

O país ainda se recupera de um terremoto de magnitude 7.3 na escala Richter, que ocorreu perto da sua capital, Porto Príncipe, em janeiro de 2010, deixando um rastro de 300 mil mortos, mais de 900 mil imóveis arruinados, dezenas de milhares de feridos, quase 1,5 milhão de desabrigados, incluindo orfandade por todo lado. Entre as duas dezenas de brasileiros mortos pelo terremoto estava a médica sanitarista Zilda Arns, criadora da Pastoral da Criança, uma organização de assistência à infância.


Cenários desconcertantes

A destruição que se seguiu ao desastre natural afetou uma situação socioeconômica já comprometida, que deixou os sobreviventes sem serviços e bens essenciais: água, eletricidade, instalações de saúde. Um cenário ainda considerado de alta emergência, tendo em vista não apenas outros terremotos ocorridos entre 2014 e agosto passado, seguidos de rapinagem de gangues criminosas, mas também por forte instabilidade política após o assassinato do presidente Jovenel Moïse em sua casa, na madrugada de 7 de julho de 2021.

“É incrível como este país não consegue encontrar um pouco de descanso”, diz Maurizio Barcaro, missionário leigo há muitos anos em Porto Príncipe, a quem a Fundação PIME ajuda através de projetos de apoio à distância para crianças.

Do abalo sísmico de magnitude 7.2, que fez tremer o coração do Caribe em agosto de 2021, resultaram perto de 2.500 mortos, milhares de soterrados ou desabrigados e incontáveis desmoronamentos de imóveis no Haiti. Desta vez, as cidades de Cayes e Jérémie, no sudeste do país, foram as mais afetadas, e pequenas cidades como Maniche e Aquin, que já são normalmente de difícil acesso pelas estradas vicinais. Alguns dias depois do abalo sísmico, o país foi “lavado” pelo furacão Grace, que produziu enchentes e mais deslizamentos de terra.


Foto: Pixabay.com/msjennm

A aurora no horizonte

“É como se a natureza ou os acontecimentos não nos deixassem descansar”, declarou Dieunord Saint Louis, diretor-clínico de um hospital no sudeste do Haiti, após o recente abalo sísmico de 2021. Dieunard prossegiu: “Mas, em meio a tudo isto muitos de nós têm fé. Parece que é da nossa cultura. Mesmo que a noite seja muito escura, esperamos que o dia vá chegar.”


Com ele concorda o citado acima Maurízio Barcaro:

"Meu respeito por este povo aumenta dia a dia. Os haitianos passam de um teste para outro com muita coragem e dignidade. Choram, se desesperam, mas só o suficiente; depois tiram a “poeira” de seus ombros e a vida continua”.

Daí o desafio: fazer da ilha um posto avançado de esperança, depois de ter chegado mais uma vez ao fundo do poço.


A esperança, sempre

Uma ONG italiana chamada Fundação Francesca Rava ajuda a infância em condições de miséria e alimenta projetos e atividades de sensibilização sobre direitos das crianças pelo mundo. Sua atuação é nas periferias do mundo, como o Haiti, onde atua há décadas. Sua atual presidente é Mariavittoria Rava. Ela diz:

“Os sinais dos terremotos que pareciam destruir um país inteiro são carregados em seus corpos pelos membros mais jovens da população. Crianças que em 2010 perderam membros, braços, pernas, agora são jovens andando de muletas. Indivíduos que têm mais dificuldade em sobreviver em um país que já sobrecarrega todos os seus habitantes. Mas as feridas aparecem apenas de relance, mesmo nas ruas onde ainda são visíveis escombros e prédios destruídos”.
Foto: Pixabay.com/georgephoto

Mas, na escuridão de tanta devastação, brilha a capacidade desta população de se levantar novamente: “O Haiti tem uma população maravilhosa - conclui Mariavittoria -. É composta por muitos jovens que têm uma grande vontade de fazer a diferença. Crianças que vieram da rua, que de potenciais criminosos, tornaram-se médicos, enfermeiros, pequenos empresários, hoje produzem painéis solares, pão, massas, aram terras e cultivam árvores frutíferas. É um país e uma população que finalmente merecem paz e ordem, mesmo contando com uma intervenção de fora que dê apoio concreto".


Texto completo publicado na Revista Mundo e Missão edição 262. Gostou da matéria? Assine a revista!




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